A idéia pro post veio justamente de dois episódios que me aconteceram esses dias. Como eu tenho que contar sobre esse mundo de informações que eu absorvo um pouco mais a cada dia de alguma forma, vou começar pelo metrô.
O primeiro: ontem, chacoalha de um lado, chacoalha de outro, nove estações até a minha, foi dando aquele sono... De repente, eu percebo que só estamos em três - sim, eu disse três! - no vagão. E ainda quatro estações a passar, e a música do Los Hermanos na minha cabeça - é claro que eu estava "no último vagão" - e desce mais uma mulher; olho pra trás: uma figura e eu. Ele se aproxima da porta, hesita, penso "se ele não descer, desço eu". Ele agarra o jornal e sai, mandando alguém - acho que "as vozes" - ficarem caladas. E lá fui eu, so-zi-nha no vagão durante três estações; a experiência mais Twilight Zone da minha vida.
O segundo: hoje de manhã, no auge do meu "bom" humor matinal, eu (e o trem inteiro) tive(mos) que ouvir as impressões de duas criaturas, que se não bêbadas, completamente tantan:
- Uma vez um amigo me disse as pessoas no metrô de Paris sempre têm essa cara de constipadas...
- Constipadas?
- É! Essa cara de enjôo, de raiva, de abuso.
- Ah, sim! Pois é, cara, eu tô sempre feliz; acordo, tenho um trabalho, às vezes, a mulher quer, às vezes, não quer...
Deixo escapar baixinho um "é o quê, mansh?!". E eu pensando nas milhares de figuras que a gente vê todos os dias no metrô. Sempre há os músicos, as mulheres sentadas com pedaços de cartolina à sua frente, geralmente com mensagens de "j'ai faim" (tenho fome) escritas, as pessoas com malas hiper pesadas, carrinhos de bebê e toneladas de compras de supermercado; sem falar nos malucos que vagam pelas estações, falando sozinhos, gritando com os outros e fugindo da polícia e dos fiscais da empresa de transportes. E tem gente que lê - até hoje não sei como eles não passam da estação -, gente que ouve música - os mp3 players são, há uns dois anos, fe-bre - ; tem quem fique prestando atenção no mapa, nitidamente contando quantas estações faltam pra chegar e tem gente (pouca mas tem) que conversa.
Sempre gostei do metrô; primeiro, da idéia de viajar embaixo da terra... Sábia a criatura que pensou "tem tráfego em cima, é?! Pois eu dou um jeito: passo por baixo e em alta velocidade!", segundo, porque é um lugar perfeito pra peoplewatch, atividade das minhas preferidas.
Dizem que Paris de verdade, é a Paris dos ônibus; pra ver o óbvio, talvez, mas as nuances, essas se escondem, literalmente, no subsolo.