Nem tudo são flores...

A odisséia da carte séjour (carta de identidade que os estrangeiros que vêm passar mais de 3 meses na terra do camembert têm que tirar): novela em 4 atos.

A primeira vez, depois de esperar quase três horas na fila (o que me causou, pela falta de almoço, uma bela enxaqueca...), fui mandada de volta pra casa quando havia 2 pessoas na minha frente e faltavam quinze minutos para o último atendimento. Merveille!

A segunda vez, graças ao santo estagiário - estou avisando: estagiários unidos jamais serão vencidos! -, evitei a quilométrica fila e, dossiê em mãos, fui atendida por uma moça super legal. (Pausa pra falar sobre as filas.)

Pega-se uma fila para conferir os documentos, pega-se uma senha para ser atendido, pega-se outra fila para marcar a consulta médica (acho que eles querem saber se eu tenho piolho... tenho não, tio! Lavo cabelo todo dia, viu?) e mais outra - só pra ser divertido -, pra receber a convocatória e a carta provisória; legal, né?! Paciência de Jó, meu nêgo... (Despausa.)

Tudo resolvido, vou embora feliz da vida e sigo minha semana. Na quarta de manhã, sou acordada pelo maldito som de "Accidentally in Love", mas quem raios tem meu número e me liga às oito e meia da madrugada?! A moça do comissariado, é óbvio! "Sabe o que é?! É que suas fotos ficaram muito claras..."

Respondi entre os dentes e meu bom humor matinal que passaria lá no dia seguinte para levar outras; a vontade foi de dizer "minha querida, eu sou loira, branquela, o fundo da cabine era branco e a foto era em P&B; sinceramente, VOCÊ ESPERAVA O QUÊ?!"

Com ódio do mundo, lá fui eu... Evitei a fila de novo, sob os olhares de ódio e revolta das outras pessoas e entreguei as fotos. Finalmente livre, certo?! Errado! Estava eu a caminho de casa, fazia 40 minutos que tinha saído de lá, quando lá vem "Accidentally" de novo: "er... sinto muito ter que ligar de novo mas é que acabaram de me dizer que há um problema com sua certidão de nascimento".
E eu pensando: "o que foi dessa vez?! Eu não nasci, é isso?". A explicação: "como você nasceu em Paris, precisamos de uma certidão da Prefeitura daqui".

Alguns xingamentos passam pela minha cabeça, respiro fundo e, com um sorriso amarelo, respondo que não há problema, que no dia seguinte levaria a certidão. Na sexta-feira, então, atravesso a cidade, o Sena e meu dia pra ir à Mairie du 8ème e pegar a tal certidão. Subo as escadas pedindo a Deus, Murphy e a todos os santos que me ajudem; eles atendem e eu saio com a dita cuja em menos de 10 minutos.

Reatravesso a cidade, pego o bom e, agora, amigo-irmão RER-B e chego no comissariado cansada, ofegante e com cabelo de maluca. A moça me olha compadecida e me diz: "espero que dessa vez não te peçam mais nada; desculpa mesmo mas é que, em matéria de burocracia, a França é foda".

É, chéris... Como diz Mamãe, imigrante sofre!!!

P.S.: a lua-de-mel esteve comprometida; atenção: eu não disse que ela terminou! Acho que nunca vai terminar; nós temos uma coisa, essa cidade de luzes inebriantes e eu...